Campinas prevê repor aos sábados e no bairro de origem aulas de alunos que viajam 50 km por dia, diz MP
12/09/2025
(Foto: Reprodução) Alunos são transferidosd para escola 27 km de distância por conta de reformas
EPTV/Reprodução
Campinas (SP) prevê repor aos sábados e no bairro onde fica a escola municipal Padre Leão Vallerié as aulas perdidas por 800 alunos nas viagens de ônibus de mais de 50 km por dia que as crianças e adolescentes têm enfrentado desde segunda-feira (8), por conta da reforma da unidade.
A informação foi confirmada nesta sexta-feira (12) pelo promotor Rodrigo Augusto de Oliveira, do Ministério Público (MP), após reunião virtual com representantes da Secretaria de Educação, pais, Conselho Tutelar e vereadores.
O promotor da Infância e Juventude instaurou inquérito civil público para apurar o prejuízo escolar aos alunos da escola do Parque Valença, e classificou como "produtivo" o encontro.
"Uma informação relevante é que reposição de aulas será feita aos sábado e no bairro onde fica o Leão, para criar um transtorno menor para os estudantes", disse Rodrigo.
A data e como isso será feito, no entanto, ainda não foram detalhados pela Secretaria de Educação.
Visita ao colégio
De acordo com o representante do MP, o próprio diretor da escola teria reconhecido a necessidade de melhorar a comunicação com os pais.
Entre as medidas ficou acertado que os pais serão recebidos no Colégio Fitel, instituição privada que teve o espaço locado para receber os estudantes durante a reforma, distante cerca de 27 km da escola.
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Na próxima quinta-feira (18), os pais e responsáveis serão transportados por ônibus no mesmo trajeto feito pelos estudantes e poderão conhecer as instalações da escola. Para os pais que não puderem participar nesta data, também será marcado uma visita, nos mesmos moldes, em um sábado a ser definido.
Na reunião, o promotor disse que os representantes da prefeitura negaram que os espaços destinados aos alunos da rede municipal sejam inferiores aos usados pelos estudantes da escola privada.
"Foi dito que no período da manhã, tem a separação dos espaços, mas os espaços usados não seriam inferiores aos espaços do colégio. E que no período da tarde, que não tem aula no Fitel, os alunos podem usar os espaços", disse Rodrigo.
Transporte, estrutura
O promotor destacou que foram discutidas as questões sobre o atraso nos ônibus, o desgaste dos estudantes pelo longo percurso e a infraestrutura no Terminal Campo Grande, reaberto para servir como ponto de embarque e desembarque dos alunos do Padre Leão Vallerié.
"Todos puderam pontuar as dificuldades que essa situação trouxe, desgaste dos estudantes, um percurso longo, e a questão das aulas, que realmente acabou afetando. Foi pontuado que algumas situações de início, no terminal, como banheiro e água, já foi solucionado. Mas foi pontuado por uma mãe sobre a instalação de bancos para as crianças sentarem, e a prefeitura se comprometeu a providenciar isso", disse o promotor.
Em nota, a prefeitura informou que os bancos serão instalados no terminal na próxima semana.
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Inquérito continua
O promotor explicou que o inquérito civil instaurado segue em andamento, e que ele aguarda a manifestação da prefeitura dentro do prazo estipulado, que ainda não venceu.
Além disso, Rodrigo explicou que o MP segue aberto a denúncias e atento ao surgimento de novas informações sobre irregularidades.
"Todos trouxeram contribuições importantes, pais, conselheiros e a própria prefeitura, para diminuir esse desgaste. O MP está sempre de portas abertas, nosso papel é fiscalizar", completou.
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Impacto para os alunos
A perda das aulas por estudantes do 1º ao 9º ano do ensino fundamental da EMEF Padre Leão Vallerié durante o trajeto de ônibus para a nova escola é classificada como significativa pela professora Cristiane Machado, da Faculdade de Educação da Unicamp.
A professora do Departamento de Políticas e Administração de Sistemas Educativos (Depase) destaca que o período que o aluno passa na escola é importante, com grande impacto no ensino fundamental, e que a reposição, que é possível, deve ser bem articulada, inclusive com os pais.
"Eu parto do princípio de que a escola é importante. As quatro horas que os estudantes passam são importantes. Então, o que a gente tira dessas quatro horas, ainda mais com essa frequência, com essa constância, vai fazer falta, sim. É possível compensar? É. De uma forma mais organizada, orquestrada, articulada com os pais, inclusive", diz.
Cristiane reforça a importância das aulas para os estudantes do ensino fundamental, e que eventual perdas podem trazer grandes prejuízos educacionais.
"Estamos falando de educação básica. Educação básica é a educação infantil, o fundamental e o médio pela nossa legislação. Nós estamos falando que do básico, essa parte é fundamental. Então, se é fundamental, os fundamentos de toda educação básica estão lá", reforça.
Ao falar sobre articular com os pais, a professora da Unicamp reconhece o papel das famílias em todo o processo, mas diz que não é possível transferir aos pais a responsabilidade pedagógica, como a reposição do conteúdo perdido em atividades para serem feitas em casa.
"Qualquer atividade que você manda para casa, você precisa da ajuda dos pais para os estudantes fazerem. Mas também nós temos que pensar assim: os pais precisam trabalhar. Você não pode transferir para os pais essa responsabilidade que é da escola. Essa responsabilidade da escola de cuidar do pedagógico, dessas quatro horas diárias, no mínimo", completa.
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