Dono de casa usada por grupo que assassinou ex-delegado depõe à polícia e diz ter alugado imóvel, mas que não tem comprovantes
22/09/2025
(Foto: Reprodução) Casa de onde teria saído fuzil que pode ter sido usado no assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz foi o primeiro imóvel a ser investigado
Reprodução/TV Globo e Marco Antônio/TV Tribuna
Willian Silva Marques, suspeito de envolvimento na execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, prestou depoimento ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), na capital paulista, nesta segunda-feira (22).
Ele foi preso na madrugada de domingo (21) após se entregar à polícia em São Paulo. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), esta é a quarta prisão relacionada ao crime.
Willian, de 36 anos, é dono da casa em Praia Grande de onde teria saído um fuzil que pode ter sido usado no crime e teve a prisão temporária decretada pela Justiça de São Paulo no sábado (20).
Segundo a polícia, ele manteve a versão apresentada informalmente pelo advogado, de que alugou o imóvel para uma pessoa chamada Luiz, mas que não tem comprovante, contrato nem mensagens de texto que confirmem o que diz.
O suspeito seguirá mantido preso temporariamente (por 30 dias, prorrogáveis por mais 30).
Ruy foi executado na noite de segunda-feira (15), após cumprir expediente como secretário de Administração na Prefeitura de Praia Grande. Além de Willian, Dahesly Oliveira Pires, Luiz Henrique Santos Batista (Fofão) e Rafael Marcell Dias Simões (Jaguar) foram presos por suspeita de participação no crime.
Outros três investigados foram identificados e estão foragidos: Felipe Avelino da Silva, Flávio Henrique Ferreira de Souza e Luiz Antonio Rodrigues de Miranda.
Willian é irmão de um policial militar, que já foi ouvido e liberado. Em nota, a SSP-SP informou que o suspeito se apresentou ao DHPP, na capital paulista, acompanhado de um advogado na madrugada do domingo (21) e permaneceu preso.
"As forças de segurança seguem mobilizadas para identificar e prender todos os envolvidos no crime", informou a pasta, dizendo que as diligências prosseguem para esclarecer todas as circunstâncias e responsabilizar os envolvidos.
Casa
A casa de Willian foi o primeiro imóvel a ser investigado por ter ligação com os criminosos. Ela teria sido usada como base da quadrilha. No local, a perícia encontrou 41 materiais genéticos, incluindo de um policial militar que é irmão do proprietário. No entanto, o agente já prestou depoimento e não é considerado suspeito.
A polícia chegou até a residência na Rua Campos de Jordão, no bairro Jardim Imperador, após o depoimento de Dahesly. Segundo o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a mulher saiu de Diadema, no ABC Paulista, para buscar um dos fuzis usados no assassinato de Ruy no imóvel. A ordem teria sido dada por Luiz Antonio. Os fuzis não foram localizados.
Casa de onde saiu fuzil usado em morte de ex-delegado é periciada
O imóvel tem a fachada totalmente fechada, mas conta com piscina e churrasqueira, e teria sido usada pela quadrilha por alguns dias. A residência fica em uma região tranquila da cidade, onde há muitas casas de temporada. O bairro é um dos últimos antes do limite de Praia Grande com Mongaguá.
Além do imóvel de Willian, uma segunda casa passou a ser investigada pela Polícia Civil por ter sido usada pelos criminosos. O imóvel fica em Mongaguá e foi periciado.
Quem são os suspeitos
Na parte de cima, os foragidos Luis Antonio Rodrigues de Miranda, Felipe Avelino da Silva e Flávio Henrique Ferreira de Souza. Na parte de baixo, os presos Rafael Marcell Dias Simões, Dahesly Oliveira Pires e Luiz Henrique Santos Batista
Polícia Civil/Divulgação
Felipe Avelino da Silva (foragido), conhecido no Primeiro Comando da Capital (PCC) como Mascherano, de 33 anos, teve o DNA encontrado em um dos carros usados no crime.
Luiz Antonio Rodrigues de Miranda (foragido), de 43 anos, é procurado por suspeita de ter ordenado que uma mulher fosse buscar um dos fuzis usados no crime.
Flávio Henrique Ferreira de Souza (foragido), de 24 anos, também teve o DNA encontrado em um dos carros.
Willian Silva Marques (preso), de 36 anos, é proprietário da casa apontada como base dos criminosos em Praia Grande.
Dahesly Oliveira Pires (presa), de 25 anos, foi detida na quinta-feira (18) por suspeita de ser a mulher que foi buscar o fuzil usado no crime na Baixada Santista.
Luiz Henrique Santos Batista (preso), conhecido como Fofão, de 38 anos, foi preso na sexta-feira (19) em São Vicente (SP), por ser suspeito de participar da logística da execução de Ruy Ferraz Fontes.
Rafael Marcell Dias Simões (preso), conhecido como Jaguar, de 42 anos, foi preso na madrugada de sábado (20) após se entregar no DP Sede de São Vicente, por ser suspeito de participar do assassinato.
Cronologia da execução: ação contra ex-delegado durou menos de 40 segundos
Crime
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes ocorreu momentos após ele cumprir expediente na Prefeitura de Praia Grande como secretário de Administração. Ele estava aposentado da Polícia Civil.
Câmeras flagraram o momento em que três criminosos portando fuzis desembarcam de uma caminhonete, que estava logo atrás do carro de Ruy Ferraz, e atiram contra o ex-delegado (veja abaixo a cronologia do crime).
Infográfico: criminosos fazem tocaia antes de iniciar ataque e perseguição ao delegado
Arte/g1
Quem era Ruy Ferraz Fontes
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Fontes comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Foi justamente no Deic, no início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que ele iniciou investigações sobre o PCC, sendo responsável por prender lideranças da facção e mapear sua estrutura criminosa.
Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes
Sua atuação foi decisiva durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ações violentas contra forças de segurança em São Paulo.
Entre 2019 e 2022, comandou a Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo. Nesse período, liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy Fontes participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, e também foi professor de Criminologia e Direito Processual Penal.
Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande, cargo que ocupava até agora, quando foi assassinado.
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